"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi."


Cazuza

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Virgem vinho tinto


Havia um casal que dançava uma música lenta, 

era suave e eu quase não podia ouvi-la 

mas sentia ela tocar em cada pêlo do meu corpo 

como se ela pudesse me segurar no ar.

O calor, o tesão, a sensação de não sentir nada

me acalmando aos poucos e me pondo para relaxar.


Havia dois copos de vinho tinto na mesa 

daqueles que descem sem piedade por cada meio segundo de uma garganta seca, 

dos que mancham quase que de sangue delicadamente perfeitos vestidos de seda brancos, 

que vestem lindas mulheres de corpos esbeltos e ténues.. 

Tais como aquela que dançava a música lenta. 


E eles dançavam a noite inteira. 

Esperavam em cada passo o dia clarear seus olhos sóbrios 

e o vinho esperava sem pressa a noite vir clara 

o sol, nascer por detrás dos prédios 

iluminando seu vermelho de dor que se espalharia como luz rubi na escuridão da noite morta, 

o cálice dourado refletindo a luz ofuscante de cegar 

que não seria capaz de tirar a visão daqueles que transbordam e ardem.

 

Havia suspiros, toques suaves, havia paixão. 

O medo era vil, nem mesmo tilintante. 

Como esquecer da superfície frágil e deixar gritar a força do bater do coração? 

A alma sendo forte como o que pode parar qualquer sentimento vão. 

Inexata é a paixão que arde e abafa qualquer outra vida que vive sem ela. 


A noite morre trazendo 'a vida o dia

a lua não tem medo de deixar o sol vir e de entrar para a escuridão da noite falecida. 

Os sentimentos se vão assim como a canção,

a suavidade vira ardência como meus pêlos esturrados que queimam com o fogo,

o olhar sóbrio é tão sórdido que ambos ficam bêbados num mar eloquente. 

O vinho tinto derramado por sobre a mesa marcando o movimento ríspido do casal extasiado, 

o som é como tortura aos olhos cândidos de quem vê: o som inaudível e berrante é turbulento.


Ora vem o sol, ora vai a noite.. A música se foi assim como o balanço. 

O ritmo, que acelera para quase morrer, 

do cálice jovem, do corpo frágil, 

não conheceria a boca do pecado

e por fim, o sangue da virgem do virgem vinho tinto 

derramado e dolorido esbanjando-se penetrante 

no corpo do copo, no corpo da jovem, 

nos corpos, nos copos, nos corpos.

Um comentário:

Unknown disse...

é inspirador e provocante...
tão sensual... Adorei.. o vinho é sem duvida de uma sensualidade incrivel !!!