Vejo velhos safados embebedados em libido correndo atrás de menininhas inconseqüentes que entornam copos atrás de mais copos como se todo o álcool do mundo tivesse validade e o fatídico dia de vencimento fosse amanhã.
Vejo nos olhos embriagados de uma mulher a dor que sente sobre a insustentável safadeza de seu marido e então vejo nos olhos do marido uma gula insaciável pelos seios de uma jovem moça, que mais pensa a respeito de outras moças. E no olhar dessa menina só se vê uma outra menina a dançar desengonçadamente em cima do sofá branco da dona da casa.
E a menina dança para chamar a atenção de um intelectual gênio que não a satisfez com nem um mísero olhar - deixando-a mais assanhada do que nunca - pois está mais interessado em um rapaz que tem uma cabeça interessante e fala sobre Kafka como se falasse com orgulho de seu próprio pai.
Quando uma menina senta ao colo do pseudo filho de Kafka, o abraça e arranca-lhe um beijo molhado e o intelectual decepcionado aceita as investidas antes frustradas da menina que dançava, deixando aflita a menina que anseava pela menina que tanto sonhara. Assim que percebe que o marido tarado da outra está a observar com olhos famintos os seus seios fartos e então os esconde cobrindo o decote com as mãos.
O marido envergonhado então se vira e se contenta com sua mulher de seios murchos acostumada com o velho papai-e-mamãe de sempre - que de sempre não tinha nada já que a raridade já não se pronunciava mais entre eles -, que nesse momento esta bêbada de mágoa e tristeza esperando por um pouco de amor e reconhecimento familiar.
E eu aqui vendo tudo do sofá, ao som de Miles Davis, esperando você aparecer..