"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi."


Cazuza

terça-feira, 28 de julho de 2009

Desabafo

Jorrou as palavras da sua boca

me dizendo as calunias que disse

partindo meu coração em mil pedacinhos


Vomitou todos os seus sentimentos

para fora, como pássaros loucos

que voam num céu cheio de nuvens negras


Você pode ser egoísta e egocêntrica 'as vezes

e eu sou exatamente isso

eu sou você, uma cópia perfeita


Como teve coragem de me cuspir aquelas mentiras

de maldizer meus sentimentos

de tirar palavras erronias de minha boca?


 E queria que eu ficasse calma?

"Queria" você dizia

Ah, me desculpe, mas eu sou humana demais.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Crianças carvoeiras

É tudo cinza

não há outra cor, não há ar puro

Desde quando abrem os olhos

até a ultima que os fecha


Aquela pele rasgada e sofrida

a boca esboçando um sorriso

no rosto de uma criança sem infância

tingida de preto das cinzas

para uma fotografia


Os olhos fundos

sem desejos profundos

faltando objetivos mundanos que deveriam ter

as crianças que trabalham de sol a sol



Nascendo naquele meio

ele não poderia ter outros sonhos

se não ser o que ele é

por desconhecer o que ele não é


Com as mãos eternamente sujas de carvão

limpam os rostos imundos de terra

os pulmões cheio de cinzas

uma vida que começa e acaba cedo


novo demais

triste demais

cansado demais


Só uma criança, só um menino

que já cresceu cedo por instinto

que sente as dores de um velho franzino

com sonhos de alguém que simplesmente não acredita mais neles


"As lágrimas e o suor se misturam ao pó de carvão e formam uma máscara que cobre suas feições de menino."


"A palavra progresso não terá qualquer sentido quando houver crianças infelizes."

Albert Einstein


Sempre tem um fraco


Discutíamos diferentes opiniões com um fervor inimaginável. 

Era quase como se quisessem mudar a opinião alheia gritando.

E todos sabiam que estavam apenas conhecendo si mesmos.

Ninguém realmente queria se deixar levar, mas muitas opiniões estavam sendo formadas por argumentos ora certos para eles, cheios de convicções e certezas, ora incertos e assim mudando seu modo de pensar.

E todos estavam gozando o seu prazer por ver a confusão com um pouco mais de conteúdo que estava sendo feita.




Era empolgante ver como todos queriam realmente fazer-se entender e como todos se conheciam um pouco mais no seu processo de reflexão.

Quando Zé se levantou e disse:

"Pra que estamos discutindo? Isso é inútil, não vai levar a nada."

Todos 

pararam, 

olharam 

e continuaram discutindo.

E Zé retirou-se sozinho do quarto.


Não quero ficar louco!

Sentamos por impulso.

Algo dentro dele despertava-me o interesse.

Ele tinha em si uma diferença, 

ele queria, no fundo ele queria.


Em sua cabeça ele talvez ouviria 

o que jamais tinha ouvido antes 

e isso o animava.


Começamos a conversar 

seus olhos eram vazios, 

loucos para serem completados 

com o que conseguiria ver em sua mente.


Foram horas a fio, 

ele se recusava a pelo menos imaginar 

para que talvez conseguisse entender 

o que se passava dentro de mim.


Quando de súbito 

voltou-se a si 

e desesperadamente 

mandou-me parar.


O medo o dominou, 

não quereria explorar, 

seu mundo cego 

entre suas quatro paredes muito bem construídas 

o agradavam demasiadamente.

Para que mudar?


Fugiu 

como um animal medroso 

de algo que não sabia 

como poderia acabar. 


"Não quero ficar louco." 


era tudo o que conseguia falar, 

nem mesmo queria deixar-se enxergar

e testar um pouco do que considerava loucura, 

sem um pingo de curiosidade por ela.


"Eu tenho medo." 

repetiu por mais cinco vezes 

e saiu do quarto, 

voltando para suas quatro paredes 


vazias.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Virgem vinho tinto


Havia um casal que dançava uma música lenta, 

era suave e eu quase não podia ouvi-la 

mas sentia ela tocar em cada pêlo do meu corpo 

como se ela pudesse me segurar no ar.

O calor, o tesão, a sensação de não sentir nada

me acalmando aos poucos e me pondo para relaxar.


Havia dois copos de vinho tinto na mesa 

daqueles que descem sem piedade por cada meio segundo de uma garganta seca, 

dos que mancham quase que de sangue delicadamente perfeitos vestidos de seda brancos, 

que vestem lindas mulheres de corpos esbeltos e ténues.. 

Tais como aquela que dançava a música lenta. 


E eles dançavam a noite inteira. 

Esperavam em cada passo o dia clarear seus olhos sóbrios 

e o vinho esperava sem pressa a noite vir clara 

o sol, nascer por detrás dos prédios 

iluminando seu vermelho de dor que se espalharia como luz rubi na escuridão da noite morta, 

o cálice dourado refletindo a luz ofuscante de cegar 

que não seria capaz de tirar a visão daqueles que transbordam e ardem.

 

Havia suspiros, toques suaves, havia paixão. 

O medo era vil, nem mesmo tilintante. 

Como esquecer da superfície frágil e deixar gritar a força do bater do coração? 

A alma sendo forte como o que pode parar qualquer sentimento vão. 

Inexata é a paixão que arde e abafa qualquer outra vida que vive sem ela. 


A noite morre trazendo 'a vida o dia

a lua não tem medo de deixar o sol vir e de entrar para a escuridão da noite falecida. 

Os sentimentos se vão assim como a canção,

a suavidade vira ardência como meus pêlos esturrados que queimam com o fogo,

o olhar sóbrio é tão sórdido que ambos ficam bêbados num mar eloquente. 

O vinho tinto derramado por sobre a mesa marcando o movimento ríspido do casal extasiado, 

o som é como tortura aos olhos cândidos de quem vê: o som inaudível e berrante é turbulento.


Ora vem o sol, ora vai a noite.. A música se foi assim como o balanço. 

O ritmo, que acelera para quase morrer, 

do cálice jovem, do corpo frágil, 

não conheceria a boca do pecado

e por fim, o sangue da virgem do virgem vinho tinto 

derramado e dolorido esbanjando-se penetrante 

no corpo do copo, no corpo da jovem, 

nos corpos, nos copos, nos corpos.

domingo, 19 de julho de 2009

Quase uma eternidade de nada

De olhos vendados, preso na cadeira

podia ouvir os barulho do silêncio.

Na mente, tudo escuro

em volta, paredes sem portas e janelas.


Tudo branco.


Com muito esforço em vão, a voz me falhava

As mãos atadas.


Abandono.


Faziam dias, meses, anos..

Por quanto tempo estive lá?

Por quanto tempo estaria?


Sozinho.

Mas alguém observava.


Medo.


Ele estava sempre lá? Por quê?

Por que não ia embora?


Coragem.


Quando minhas mãos se soltaram 

meus olhos podiam ver o branco desaparecer

e muitas cores me abraçavam. 

Havia música e alívio.

Uma linda música me contagiava e o embalo fazia esquecer a agonia

tudo dançava ao meu redor: mesas, cadeiras, armários.  

E cantavam uma melodia de prazer..


Quando no alto, de súbito, podendo ver tudo de cima de uma nuvem no céu,

eu pulei e cai. Cai infinitas vezes..

Caindo.. Caindo.. e não parava de cair.

O frio congelante era de cortar a pele.

Por horas, horas caindo numa imensidão branca..


E nada.


Um nada absoluto que devorava o resto de lucidez que sobrara

Caindo numa velocidade desumana. 

Até mesmo o terror era frio.


Parado no nada..

Eu corria, corria rápido, cada vez mais depressa.

Seria a mais asquerosa companhia pior do que a do nada?


Vazio.


Nem um grão de nada. 

Nem uma parede para se encostar, nada.

Horas a fio, esperando nada acontecer.

Um torpor, um cansaço.


De repente a luz branca que antes cegava se afastara

E uma mão delicada que me levaria ao desconhecido aparecia

Limpava meu rosto, minhas feridas.

Me acalmava o amor.

Era tudo lindo, e a música nostálgica voltava a tocar


Dancei.


Estaria eu livre?

Era bom, era muito bom.


Quando de trás para frente a música começou a tocar

revelando mensagens ocultas, subliminares apareciam

vozes que chamavam, zumbidos que atormentavam..

A mão delicada apodrecia e caia como pó

e deixava ser levada pelo vento.


Quando acordei.

Ainda sentado, vendado e atado no mesmo lugar.


Baseado em A mancha de Luis Fernando Veríssimo, onde relata histórias da ditadura militar.

Volte, Pierri..

Pierri,

essa vida não dá pra mais ninguém não

agora somos só nós dois: eu.. E você.

Então vamos ser!

Vamos nos permitir, pierre!

Vamos nos deixar ser, vamos nos amar

vamos transar a noite inteira, meu bem.

Vamos nos deixar, nos triturar, nos devorar.

Pierri, vamos nos rasgar em pedaços!

Ser um, ser dois, vamos ser mil em um só!!

Mas, vamos..

..Vamos comemorar, brindar o nosso, o vosso, o deles

vamos falar, contar, gritar.. Vamos gritar, pierri!!!

...

Vamos gritar para o mundo inteiro

para que tudo, tudo o que não é mais, possa deixar ser

possa nos ouvir, meu amor..

Vamos?

Vamos além, 'a quem, 'alguém!

Simplesmente....... Vamos!

Vamos ser, simplesmente, simplesmente sejamos!

Sejamos amor, ódio, tristeza alegria

sejamos tudo! E nada. Nada e tudo!

Sejamos eu, você, nós dois. Não importa.

Mas sejamos.

Não quero ser, não quero que seja.

Quero nós, Pierri..

Esteja aqui comigo

vamos nos amar e celebrar o nosso amor

vamos clarear nosso dia

acender a chama..

Pierri..

Não deixe a chama apagar

Essa vida não tá pra mais ninguém, não

E cabe a mim, cabe a você

cabe a nós, querido.

Cabe a nós.

Não está claro?

Vamos criar o novo mundo, eu..

Eu e você.

E você, Pierri. Você.

Não vê que ainda temos tanto para conquistar..?

Não se vá, Pierri, volte..

Pierri...!


Obs: Pierri é um homem fictício.